É no Quarto de Hécate que Prosérpina toma seu chá.
É lá que ela conta seus segredos, chora seus enganos, ri da vida e aprende. E ensina.
Porque o mestre sempre é discípulo do conhecimento que partilha, e o aluno, professor das lições que ajuda a rever.
Dedicado a Crescente de Prata

sexta-feira, 7 de março de 2014

O Atelier de Prosérpina e o Tempo

Oi!
Esse blog foi criado há muito tempo (2009!), mas essa é a primeira postagem dele. Tempo, aliás, é algo que tem faltado. A vida dá voltas loucas, é tanto o que fazer, tanto o que viver, e quando nos damos conta, o tempo passou, e nem vimos.
Tempo é algo muito mais psicológico do que imaginamos. Relógios, calendários, nada disso é capaz de medir o tempo dos nossos pensamentos, dos nossos sonhos, da espera e da procrastinação. Tempo é algo relativo, indefinido, pessoal. A espera de uma vida inteira dura segundos em nossa mente após um encontro feliz. As horas de estudo parecem infinitamente perdidas e longas depois de uma prova mal sucedida. 
Mas o que dizer das marcas que o tempo deixa em uma vida? Crianças crescem, rugas aparecem, livros amarelados (ah, ainda não sei se prefiro o cheiro de um livro novo ou o leve odor amadeirado de um livro antigo), pensamentos mudados. E qual é mesmo a medida de tempo de quando os cabelos embranquecem? Sempre achei que os primeiros fios são um marco, daqueles que assinalam um acontecimento importante, o final de uma fase, o início de outra.
Talvez, essas marcas sejam um indicador mais eficiente de que ele de fato existe. Eu sei o tempo das minhas, e conheço cada história. Coisas de quem aprendeu a se olhar no espelho, a entender sua porção material. É, acho que contarei o meu tempo pelas rugas, duas, três, e daí para o que dizem os documentos? Meu tempo é outro!

E só para mostrar que algumas ideias podem até ser antigas, mas nunca envelhecem, deixo aqui um poema maior de idade (nossa, foi há tanto tempo assim? Jura?). Só pra lembrar pra mim mesma que o tempo me mudou, mas que eu ainda sou a mesma pessoa. Enjoy!

 ATELIER DE PROSÉRPINA
                       (para Luciana Dizioli)

Como se mede a distância do desejo para o afeto?
Como se costura o desenho de um corpo na pele?
Acaso a vida persponta tecidos de mágoas a quem distraído veste a roupa da paixão?
No atelier de Prosérpina tirei medidas de incomensuráveis dúvidas
Foi lá que, com fita métrica da dor, fiz estas vestes fulvinegras com que cobri meu sexo e readquiri a visão.
Do Éden ante ao pecado original.
E foi lá perdido num vale de sombras
Que depositei uma a uma as filhas de Prosérpina no cemitério
Mas principalmente lá,
Onde de todas as maneiras fustigado,
Inerme compreendi o sentido inelutável do verbo amar.

Beto Capeta


2 comentários:

  1. Meu 1º cabelo branco surgiu quando eu tinha 7 anos de idade.

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  2. Uau!
    E você se lembra de algo marcante que aconteceu nessa época?

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