É no Quarto de Hécate que Prosérpina toma seu chá.
É lá que ela conta seus segredos, chora seus enganos, ri da vida e aprende. E ensina.
Porque o mestre sempre é discípulo do conhecimento que partilha, e o aluno, professor das lições que ajuda a rever.
Dedicado a Crescente de Prata

quarta-feira, 26 de março de 2014

Cão que Ladra

Ando reparando no mundo, e o que tenho visto não me agrada em nada. As pessoas estão reclamando. Reclama-se do absurdo que pagamos pelo combustível, reclama-se da maneira como os governantes conduzem o país (como se eles fossem seres de uma galáxia distante que só aparecem por aqui durante as eleições, te manipulam com poderes psíquicos para conseguir seu voto e depois voltam para a lonjura de onde vieram deixando para trás os cofres públicos vazios e a falsa esperança de que tudo vai melhorar), reclama-se até do tempo.
As pessoas veem algo errado, ficam indignadas, e xingam muito no Twitter.  Xingam também no Facebook, postam fotos xingando no Instagram, e em outras redes sociais. Tudo muito moderno, tudo muito globalizado. Tudo muito ineficaz. Você olha em volta e percebe que nem tudo vai bem. E xinga a vida por isso. E de repente, nada vai bem, e você continua xingando. De tanto xingar e reclamar, vai se formando uma onda de mal estar, tudo parece cada vez mais péssimo, tudo parece sem volta, sem solução, sem rumo, sem vida.
E assim, viramos um bando de reclamões sem atitude, amontoados de discursos sem aplicação prática. Destemidos guerreiros virtuais que fogem com o rabo entre as pernas sob ameaças do mundo real.
A revolta é maior quando percebemos que nossos 'malfeitores' riem de nós numa mesa de jantar em um fino restaurante na Europa. Em um navio atracado em um porto de Cuba. Com nosso dinheiro. Riem de nós os pequenos malfeitores, os encoxadores do metrô, o cara que furou a fila, o sociólogo das teorias ridículas, o picareta que usa nosso prestígio em benefício próprio. 
Eles riem porque sabem que, como diz o ditado, 'cão que ladra não morde'. Cão que ladra xinga muito na internet, mas vota no menos pior. Cão que ladra não para o país porque o TSE não dá a mínima pro ficha limpa. Cão que ladra não sabe o nome dos vizinhos pra se organizar e mandar consertar o buraco na rua. Cão que ladra pensa no automático, vai na onda, no embalo, cai na lábia de quem falou mais alto e nem sempre está mais certo (quase nunca está). 
É hora de parar de ladrar e começa a resolver. Tocar a campainha do vizinho e resolver o problema do buraco. Analisar o discurso alheio antes de seguir uma bobagem como se não houvesse amanhã. Se organizar e exigir o cumprimento das leis. Gritar, denunciar e impedir todo o tipo de sacanagem (eu rio com gosto da cara de 'estou sendo lesado' que alguns furadores de fila fazem ao ser repreendidos). E antes de mais nada, seguir as leis.
Seja um guerreiro virtual que discursa, grita e mobiliza. Mas não se esqueça de que as mãos que berram por um mundo melhor tem força e garras para construí-lo. 
Seja como for, aja. E haja o que houver, aja!

2 comentários:

  1. Tão pedante! E sabe, é até divertido tocar a campainha do vizinho. No começo vem aquela cara de surpresa, depois, um interesse muitas vezes legítimo pelo seu argumento. E se de dez campainhas você conseguir ao menos dois aliados, duas pessoas com o mesmo problema que você que decidem se levantar do sofá e lutar por seus direitos, o lucro é enorme!

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